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O Shotgun centra-se na promoção de reinserção social de pessoas com comportamentos aditivos e dependências (CAD) em processos de recuperação. A fase de reinserção social constitui-se como um processo que visa fornecer ao indivíduo os instrumentos necessários para ultrapassar a sua dependência e conseguir reintegrar-se na sociedade (Carvalho,2007). Trata-se geralmente de uma fase em que são enfrentados múltiplos obstáculos, provenientes não só de dificuldades internas do indivíduo, da sua história de vida e de contextos microssociais, como de acontecimentos a nível macrossocial (Rebelo,2007). A falta de compreensão sobre este fenómeno produz efeitos na construção e reforço das representações negativas sobre estes grupos, que acarreta obstáculos ao processo de recuperação. A literatura corrobora que a integração no mercado de trabalho é determinante para o sucesso da reinserção social de pessoas com CAD (e.g. Borba&Lima, 011; Ló,2011; Marujo,2012). Sendo que a inexistência de perspetivas de emprego provoca, muitas vezes, um sentimento de inutilidade e da perda da dignidade pessoal, podendo evoluir para reações de rutura e revolta (Soulet, 2000). Importa referir que há diferentes fatores que contribuem para uma maior dificuldade no acesso e manutenção de emprego, como: i) insuficientes ou desatualizadas competências de empregabilidade (e.g. acesso a serviços, técnicas de procura de emprego, literacia digital e financeira); ii) rede de suporte enfraquecida e consequente menor rede de contactos para procura de emprego; iii) imagem negativa e desajustada associada a pessoas com CAD, que bloqueia ou diminui a possibilidade de integração no mercado de trabalho.

O Shotgun pretende responder a estes desafios, através de ações distintas. Importa referir que as CT são espaços privilegiados de transformação pessoal, destacando-se: pelo cuidado integral dos residentes, garantindo ambientes seguros, promotores da dignidade e dos direitos; pela reparação das relações interpessoais e de suporte; e pelo treino intensivo de competências socioemocionais (e.g. autoconhecimento, autoestima, gestão emocional, tomada decisão e trabalho em equipa) e capacidades com vista à prevenção da recaída, contribuindo para a consolidação de projetos de vida saudáveis e equilibrados – livres de dependências. Contudo, permanece uma necessidade de investimento no desenvolvimento de competências transversais, concretamente facilitadoras da integração e manutenção laboral. Assim, o projeto prioriza o empoderamento através de ações de capacitação, orientação e acompanhamento, com vista ao desenvolvimento de competências de empregabilidade. Por outro lado, torna-se premente apoiar na (re)construção de uma comunidade de suporte, uma vez que associada a esta problemática se assiste a uma progressiva desagregação dos laços familiares, de amizade e comunitários. Destaca-se a criação da Rede de Oportunidades de Emprego – constituída por diversas entidades empregadoras - e a promoção de relações interpessoais entre pessoas recuperadas e em recuperação (mentorias), que se apoiarão mutuamente. O projeto tem ainda como propósito combater o estigma social, uma vez que os preconceitos face ao fenómeno dos CAD constituem um forte entrave à inclusão social.

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